terça-feira, 30 de novembro de 2010

Crônica

A crônica é um relato de acontecimentos, fatos, do tempo de hoje, fatos do cotidiano. É uma seção de jornal ou revista, na qual são abordados acontecimentos do dia-a-dia. Em sua estrutura predomina uma seqüência de narrativas, com marcas subjetivas do produtor do texto.




Ex¹: O que é que prefeitos têm a ver com capitães de navios?

Parece que nada. Navios estão no mar, cidades estão na terra. Navios viajam, cidades não saem do lugar. Embora não pareça o fato é que as responsabilidades dos prefeitos são absolutamente idênticas às responsabilidades dos capitães de navio e seria sábio que os prefeitos tivessem capitães de navio aposentados como seus conselheiros. A primeira obrigação de um capitão de navio é cuidar do navio... Estar atento às maquinas, ao radar, aos instrumentos de orientação, à cozinha, à limpeza, ao combustível, ao casco. Isso tudo, para navegar. Quem entra no navio quer viajar. O capitão do navio tem o dever de levar seus passageiros ao porto prometido. Caso contrário acontece como aconteceu com o Titanic. A primeira obrigação dos prefeitos, à semelhança dos capitães de navio, é cuidar da cidade. Coleta de lixo, saúde, educação, cultura, finanças, água, construções, calçadas, jardins, energia, estradas, os pobres, os velhos, as crianças. Mas as cidades, embora pareçam fincadas no chão, navegam para um futuro. Cidades que não navegam são como navios encalhados, abandonados, enferrujados. Acabam por afundar. Para qual futuro? Essa questões me levam às perguntas que eu gostaria de fazer àqueles que se candidatam a capitães desse navio chamado Campinas. Apenas três. Três são o suficiente. 1. Qual é o futuro que o senhor sonha para Campinas? Para que porto o senhor levará a cidade, se for eleito? Quero que sua descrição seja tão viva que eu possa vê-la! 2. Quais as medidas imediatas a serem tomadas para se começar a navegar na direção desse futuro? 3. Quais os problemas prioritários do presente – as feridas da cidade - a serem atacados imediatamente? De que forma?

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Ex²:

Homofo... o quê?

O trabalho do jornalista é difícil, sabe-se se lá o que passamos para conseguir material para as nossas notícias, reportagens e etc. Você deve imaginar que ser homossexual é difícil também. Então, imagine o que seria um jornalista homossexual, se não um pobre diabo? Um pobre diabo que leva uma vida dobradamente difícil.

Nas andanças que fiz por aí, colhendo material para uma reportagem sobre homofobia, procurei na cidade o Núcleo de Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia. Que dificuldade, que dureza! O primeiro lugar em que fui buscar informação foi à prefeitura. Debaixo de um sol de rachar a cuca me dirigi até lá e me deparei com uma senhora de feição cansada, atrás de um balcão. Quando me viu, perguntou:

- O que deseja?

- Boa tarde, senhora. Estou procurando saber onde fica aqui na cidade o NUDH, Núcleo de Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia.

- Ahn? Homofo... o quê?

- Homofobia.

- O que é isso?

- Bem, senhora... Homofobia é aversão a homossexuais, fobia a homossexuais.

Depois de me olhar de cima a baixo, provavelmente se questionando se eu sou gay, disse:

- Sei onde fica isso não. Deve estar relacionado à saúde. Vai lá na Secretária de Saúde.

Desapontado com a ignorância da funcionária pública, por não ter conseguido o endereço que eu queria e por ter que andar debaixo do sol mais um pouquinho, sai de lá irritado e fui gastar um pouco mais da sola do meu sapato, desta vez rumo a Secretária. Lá encontrei uma senhora e uma moça mais jovem, na casa dos 30 talvez. Chegando ao balão eu disse:

- Boa tarde.

- Boa tarde. - Disseram quase em coro.

- Vocês podem me informar onde fica o NUDH, o Núcleo de Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia?

As duas se olharam e depois me olharam, eu conseguia ver a interrogação em seus rostos. A mais nova delas disse:

- Homofo... o quê?

-Homofobia, moça. Homofobia. Aversão a homossexuais.

Olharam-se, me olharam, e quase consegui escutar os seus pensamentos: Aaaah! Ele é gay. Pobrezinho.

Vasculha a lista telefônica, pergunta-se a mil pessoas. Passei quase 30 minutos no balcão, esperando, esperando, ouvindo a mulher mais velha reclamar da mais nova.Finalmente descobri o endereço que eu queria. Mais sola de sapato e mais sol na cabeça. O NUDH? Uma casa adaptada que virou sede de uma instituição que estava sem energia porque a prefeitura não pagou as contas.

Duas coisas eu reafirmei e uma aprendi nessa empreitada: Jornalista sofre, homossexual sofre e funcionário público não sabe de nada.

Editorial

Editorial: gênero que expressa a opinião institucional e apócrifa (sem assinatura individual) do jornal. Trata-se de um gênero jornalístico que expressa a opinião oficial do jornal em relação aos fatos mais relevantes no momento.

Ex¹:TODOS POR UM


Um editorial veemente de 'Prensa Libre' que era um dos dois jornais independentes, antes do fechamento do 'Diário de la Marina' determinou seu fechamento também. Foi assim consumado o trucidamento da imprensa livre em Cuba, uma vez que não há mais um só jornal que não escreva as idéias do govêrno e somente as idéias do govêrno. Isso completa o trabalho de liquidação da liberade de opinião naquele pais, uma vez que o govêrno Fidel Castro já está de posse de todas as emissóras de rádio e televisão.

Os jornalistas independentes de Cuba, porém, não ficaram isolados, pois todos os periódicos da América oferecem suas páginas, para acolher a verdadeira opinião do povo cubano.

Nesta questão de liberade de imprensa, o lema há de ser: todos por um e um por todos. É a divisa da união indestrutível a que estão naturalmente obrigados os membros da Sociedade Interamericana de Imprensa, a que 'A Tarde' se acha filiada.

O editorial que foi vetado e substituído por um outro de autoria revolucionário é um modêlo de altivez e de amor a liberdade capaz de simbolizar o aprêço de todos os jornalistas da América pelo direito à livre expressão do pensament o. Abrimos hoje, excepcionalmente as nossas colunas editoriais, a fim de publicá-lo. O editorial que não hesitaríamos em escrever em circunstâncias idênticas é o seguinte:

"Cuba comparecemos diante de ti.

Diante do teu povo, que é o nosso povo, diante do teu julgamento que é a única coisa a que nos atemos.

...Não somos mais valentes nem heróis, mas sim sinceros, e temos escrito sempre com os olhos voltados para ti. Levantamos este jornal independente que jamais recuou diante da ameaça nem do suborno. E temos dito a verdade sempre, ainda quando representasse um perigo iminente dizê-la.

..Não somos mais valentes que ninguém, mas não permitimos nem permitiremos que ninguém nos avassale nem atropele. Não somos infalíveis, mas não cremos na infabilidade de niguém.

Hoje comparecemos diante de ti Cuba nossa, para denunciar o desafôro. Um crime de lesa liberdade, de lesa democracia. Fôrças obscuras, que obedecem a influências estrangeiras, se conjuraram com elementos que nos querem arrebatar os meios de expressão para destruír-nos...Esses elementos nosquerem agredir por termos ideias próprias para combater a sinistra conjura internacional encabeçada pela Russia contra o nosso solo e contra a solidariedade do continente americano.

Se se comete esse crime contra nós, contra ti Cuba amadíssima que se saiba em cada família cubana, em cada coração cubano que tudo sacrifcamos: - nossos bens, nossa segurança pessoal e a do nossos filhos, por não querer submeter-nos aos que querem substituir com o trapo vermelho a insignia da estrela solitária"

Texto publicado por A TARDE, em 31 de maio de 1960, onde é transcrito o último editorial do Prensa Libre, jornal censurado pelo regime de Fidel Castro.

www.atarde.com.br